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Natureza perversa: Exposição questiona nomes populares de plantas.

Quando as plantas e flores são perversas: Exposição questiona nomes populares dados às plantas.

Qual é o papel dos nomes em nossa sociedade?

Em uma recente exposição, ocorrida entre os meses de Maio a Setembro de 2022, a pesquisadora e artista Giselle Beiguelman buscou questionar exatamente o peso e o papel dos nomes na sociedade.

A exposição “Botannica Tirannica” investiga a genealogia e a estética do preconceito embutidos em nomes populares e científicos dados às plantas.

Se, por um lado, popularmente se conhece algumas plantas a partir de Judeu errante, Orelha-de-judeu, Maria-sem-vergonha, Bunda-de-mulata, Peito-de-moça, Malícia-de-mulher, Catinga-de-mulata, Ciganinha, Chá-de-bugre, entre muitos outros.

Cientificamente, alguns nomes foram atribuídos às plantas a partir de preconceitos estabelecidos socialmente, entre os quais são comuns palavras como virginica, virginicum e virgianiana para designar flores brancas e a plaavra Kaffir, que é altamente ofensiva aos negros e considerada na África subsaariana um equivalente da palavra “nigger” que se convencionou chamar N-word, pelo grau de violência social que carrega.

Batismos coloniais:

Giselle, buscou, a partir da empreitada moderna que colonizou corpos e territórios, rastrear consequências deste período histórico para os nomes de plantas que outrora foram (re)batizados pelo processo colonial.

Segundo o realease da exposição, após ter recebido de presente uma muda de Tradescantia zebrina, corriqueiramente chamada de judeu errante –, a artista mapeou centenas de espécies de plantas submetidas à nomeação pejorativa, para então remixá-las de modo a produzir um verdadeiro jardim decolonial, no qual articula reflexões de ordem política e estética sobre o preconceito, a representação e a relação entre cultura e natureza – que a modernidade tornou indissociável.

Além de mapear essas plantas com nomes preconceituosos, a artista Giselle criou, com o auxílio de Inteligência Artificial, um jardim pós-natural de seres híbridos, com plantas reais e imaginárias.

Pragas que insistem em (r)existir:

Muitas dessas plantas têm sido categorizadas tradicionalmente como “ervas daninhas”, sempre combatidas, nunca erradicadas, característica que acabou sendo adotada pela artista como um manifesto de resiliência e de resistência, propondo um contra-discurso.

Se a ideia de que o mundo é um jardim, for realmente verdade, então plantas que são nominalmente compreendidas como algo ruim apontam, em sua insistência de existência e beleza, os caminhos que a liberdade da diversidade pode seguir.

A botânica aparece como um dos pontos do conhecimento humano no qual o nome é dado a partir de preconceitos estabelecidos socialmente. Repensar os nomes é, de alguma forma, repensar os discursos que não podem ser sustentados em nossa sociedade.

Assim como em um jardim é possível cultivar as plantas e estabelecer uma harmonia entre elas, com as palavras não é diferente: é possível retirar os significados fixados.

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